Por Luiz Orleans

Discordo em vários aspectos do senhor Mauro Iasi, no que tange à tática exposta em seu artigo “A crise do PT: o ponto de chegada da metamorfose”[1]. Contudo, há pontos em sua análise que devemos considerar, haja vista que o cenário que vivemos está para "quanto pior melhor" aos interesses da oposição de direita.
O dia será longo. Se não
chover cântaros para amaciar os ânimos dos espíritos contaminado pelo ódio de
classes, teremos um quarto domingo do ciclo quaresmal (13/03/2016) como nunca.
Pessoas comuns, alçadas
a um novo patamar pela garantia de direitos a partir de políticas públicas
mitigatórias, que acenaram para a inclusão de milhões às categorias econômicas
C e D, agora crendo-se prejudicadas pelo governo Dilma e seu partido, o Partido
dos Trabalhadores (PT), identificando-os como "reais promotores" da
crise política que aprofunda a crise econômica (sic), resolvem abandonar sua
passividade ao trocar as reflexões em
suas igrejas, antecedendo ao Domingo de Ramos, quando os cristãos católicos e outras
denominações tratam em suas prédicas dos
preparativos para a entrada "carnavalesca" de Jesus em uma Jerusalém
ocupada pelo Império romano, montando um jumento - ao arrepio de uma elite nativa avessa a
qualquer messianismo revolucionário -, próprias da caridade cristã por um
domingo de sol no convívio com próceres da teologia da prosperidade, políticos
ultra-direitistas, empresários “descontentes”, celebridades-de-cachê, proto-fascistas
de plantão, socialites despudoradas, além de toda sorte de estranhos filisteus
da cultura pós-modernos.
Postagens de selfs ao
lado de gendarmes de Alkimin, a nudez de louras de farmácia, a famigerada “dancinha
do impeachment” são parte das tantas alegorias da tarde que se avizinha.
A semana correu em
clima de perseguição, tendo membros do Ministério Público paulista atentado
contra o que se tem de mais razoável no direito positivo: o Princípio da Presunção
de Inocência (CF, art. 5°, § LVII), e mais ainda, em se tratando de um
ex-Presidente da República, o senhor Luís Inácio Lula da Silva, com residência
fixa, e notória condição de relevância política e social. Na escala de um golpe
branco, três zelosos promotores produziram uma peça de mais de 200 páginas onde
cabia toda e qualquer possibilidade, até uma parceria do filósofo Friedrich
HEGEL, maior expoente do idealismo alemão,
com Karl MARX, notório materialista, na consecução do “Manifesto do Partido Comunista”
(sic), ainda que o primeiro tenha falecido em 1831, e o dito “Manifesto”
lançado em 1848, com outro Friedrich: o ENGELS...
Para os três candidatos
a programa de humor ao estilo “Irmãos Marx”, caberia, aqui um detalhe, a alusão
ao humor sincero de Groucho, ao explicar sua proposta de ética pessoal: “Estes são os meus princípios. Se não lhes agrada, tenho outros”[2]. Sinceramente, não quero conhecer os “outros” de Conserino,
pois isso me assusta ao passo que tenho filho para criar. Sendo assim, quero
crer que ainda vale – pelo menos até o momento dessa postagem – o Art. 5 da Constituição Federal de
1988, que reza: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: [...] e em seu Inciso (§) LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória; [...]
Em tempos de quaresma,
me vem a necessidade de considerar a caridade como um bem sobrenatural. Para
tanto, tenho buscado a leitura de textos que simbolizam minha fé e experiência
política. Reproduzo algum desses ensinamentos:
Boris Gunjević, ao
abordar acerca dos Evangelhos de Marcos, nos presenteia com a seguinte
observação: "o cego Bartimeu é o
único que vê quem é Jesus, e ao curá-lo Jesus mostra que todos ao redor de
Bartimeu são cegos"[3].
O mesmo fala em "ortodoxia social", numa Palestina ocupada, onde as
forças da ordem se misturam entre aqueles que mandam, os que sabem porque são
mandados, os que obedecem pois não têm outra saída, e aqueles que nem sabem que
são mandados - apenas fazem o que é certo e está na ordem das coisas. Para nós,
uma similaridade com a atualidade do mesmo-de-sempre.
Estaria aí, então, a
chave para entendermos a realidade de um acirramento da luta política,
acendendo o estopim de uma luta de classes promovida pela quebra de
"contrato" entre Lula, a elite nativa e o império romano moderno? O
lulismo ainda reflete a relação patriarcal-benevolente para com o precariado?
\o/
[1]
“A crise
do PT: o ponto de chegada da metamorfose”, IASI, Mauro. Disponível em: http://blogdaboitempo.com.br/2016/03/10/a-crise-do-pt-o-ponto-de-chegada-da-metamorfose/
Acesso em: 13.mar.2016
[2] http://pensador.uol.com.br/frase/MTA3NTk4Mw/
Acesso em: 12.mar.2016
[3]
"Rezai
e observai: a subversão messiânica", de Boris Gunjević, In "O
Sofrimento de Deus: Inversões do Apocalipse" (ŽIŽEK, Slovaj; GUNJEVIĆ,
Boris; Ed. Autêntica, Belo Horizonte, 2015)